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“Por trás dos nomes das coisas existe uma contextualização em relação ao passado”, diz Célio Alício

O professor, historiador e radialista comenta sobre a importância das figuras históricas que dão nome a espaços públicos no Amapá.


Por Wallace Fonseca

O radialista também é o atual apresentador do quadro ‘Se essa rua fosse minha’, do programa Viva o Rádio, da Rádio Diário FM. | Foto: Wallace Fonseca.



Muitos lugares fazem parte do nosso dia-a-dia, como as ruas, travessas, praças e escolas. Embora esses espaços sejam visitados diariamente, seus batismos podem seguir como um mistério. Sejam oriundos de datas comemorativas, nomes de ex-presidentes, figuras históricas e até mesmo personalidades amapaenses, esses nomes que marcam nossa rotina são desconhecidos por boa parcela da população do Amapá.


A fim de sanar dúvidas quanto à origem dos nomes de logradouros públicos, o professor, historiador e radialista, Célio Alício, comenta sobre algumas dessas figuras históricas. O radialista também é o atual apresentador do quadro ‘Se essa rua fosse minha’, do programa Viva o Rádio, da Rádio Diário FM.


Como surgiu o interesse de saber a história das pessoas que dão nome às ruas de Macapá?

Na verdade, todo historiador tem de descobrir e resgatar fatos do passado. As ruas, as praças, os logradouros públicos, com referência nominal, eles remetem ao passado, portanto despertam a curiosidade. Por trás dos nomes das coisas existe uma contextualização em relação ao passado. “Em que sentido aquele fato marcou a sociedade” é uma curiosidade que todo historiador tem.


Das figuras conhecidas, qual tem a história mais peculiar?

Neste vasto universo, é difícil escolher uma. Mas tem uma que vale a pena ser citada, o ‘Beco da Mentirosa’, no Perpétuo Socorro, que por si só dá um sentido caricato. Tem também o ‘Largo do Formigueiro’, que tinha muito formigueiro. Dizem que o Jesus de Nazaré se chamava ‘Jacareacanga’ devido aos jacarés, mas esse mito caiu, não tem nada a ver com jacaré. Já tivemos aqui uma área chamada de ‘Coreia’, devido à guerra da Coreia. É difícil tirar uma rua.


Da história atual, alguma figura contemporânea pode ter seu nome em alguma rua?

Você projeta pessoas com destaque na sociedade. Veja: no esporte temos Igor Paixão, que é um amapaense recentemente convocado para seleção pré-olímpica, que tem um futuro brilhante pela frente. É primeiro jogador genuinamente amapaense convocado. Ele tendo sucesso na seleção olímpica, com certeza vai galgar espaço para a seleção principal. Na atualidade, ele é alguém que pode dar nome a uma rua, a algum estádio, a um ginásio poliesportivo.


Os nomes das ruas ajudam a contar a história do Amapá?

Sim. Você tem ruas com nomes de pessoas que atuaram com uma desenvoltura muito grande na construção da história da terra. Janary Nunes, primeiro governador, qualquer nome de escola, praça, inclusive em vários municípios, não só em Macapá, é o reconhecimento ao impacto e à obra daquele governador. Julião Ramos, na história do Marabaixo, que faz parte da cultura amapaense. Bi Trindade, um nome fundamental da música amapaense. Mendonça Furtado, que elevou o povoado de Macapá à categoria de vila. Hamilton Silva, primeiro piloto amapaense.


Como professor, os educadores que nomeiam escolas têm seu devido reconhecimento?

Alguns sim, outros não. Alguns nomes não contribuíram tanto, como políticos envolvidos em escândalos de corrupção e que tem uma imagem não tão boa na sociedade. A pessoa morre em uma circunstância trágica e a pessoa nem professor era. Nem sempre essas pessoas merecem estar ali. Um exemplo é Antonio Pontes. Ele, enquanto parlamentar, não tem para mim um lastro como Coaracy Nunes ou Anníbal Barcelos.


Cabralzinho é nosso maior herói?

Não. Os maiores heróis são as pessoas anônimas do dia a dia que contribuem para o crescimento da sociedade. A pessoa sentou um tijolo para construir que beneficiará milhares de crianças e vai formar grandes profissionais, em breve futuros governantes. No Amapá, quem merece tal ‘título’ é Janary Nunes. Quando ele chegou aqui não tinha nada. Enfim, a capital seria no município de Amapá, ele deu um jeito para que a capital ficasse em Macapá.


A Praça da Bandeira poderia ter outro nome?

Não, é esse mesmo. Se fosse nome de pessoa poderia gerar confusões, por exemplo, ‘Praça Janary Nunes’, geraria inquietação por quem não conhece seu trabalho. “Não! deveria se chamar praça Anníbal Barcelos”, pode dizer algum fã do Barcelos. Então, ‘Praça da Bandeira’ está correto, aliás, o certo seria ‘Praça das Bandeiras’, pois ali se tem a bandeira nacional, a bandeira do Amapá e a bandeira de cada um dos 16 municípios do estado.


Qual sua opinião sobre os nomes dos bairros de Macapá?

Não vejo muita polêmica, vai da opinião de cada um. Antigamente, o ‘Centro’, que se chama assim por motivos óbvios, era só um pedacinho, e hoje vai para outras áreas, quase se sobrepondo sobre outros bairros, como o Trem. E olhá só, é um nome exótico, nunca houve um trem ali, somente os trilhos. Beirol, daquela beira do rio, faz sentido.


Tem alguma sugestão de um personagem amapaense que ainda não tem uma rua com seu nome?

Ubiraci Picanço merece ser citado. O nome dele é ligado à política, é um dos pioneiros do território federal do Amapá. Ele também é um dos fundadores da ‘Boêmios do Laguinho’, isso culturalmente já diz muita coisa. Não sei se existe alguma via pública com o nome dele, mas deveria, uma vez que Janary tem e Barcelos também.


E o senhor, espera ver seu nome em alguma rua?

Olha, pode ser uma coisa egocêntrica e que eu não tinha antes, mas acho que toda pessoa busca reconhecimento por aquilo que faz, e nesse sentido tenho um lastro que se eu morrer hoje ou amanhã eu já tenha um legado, na cultura, na educação, na arte, na música, na imprensa, na religiosidade, na sociedade. Creio que eu mereço sim. Devo dizer que já tenho esse reconhecimento em vida.

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