Simãozinho Sonhador foi poeta, compositor e cantor. Deixou um legado imensurável para a poesia, música e literatura nortista. Suas poesias falam das belezas naturais e de seus amores da vida: mulher, filhos e netos
Por: Cássia Lima
Simão Alves de Souza conhecido como poeta sonhador/ Foto: Anderson Calandrini
“Socorro!
Socorro você viajou
E a nossa casa está diferente meu amor
E só porque eu fiquei sozinho
Sem os teus carinhos e tão grande a minha dor
Infelizmente você viajou
Para o trono de Deus, pai celestial
Eu fiquei sozinho neste mundo a sofrer
Socorro sem você eu estou passando mal”
Os versos melancólicos e cheio de saudades foram escritos pelo poeta Simão Alves de Souza, mais conhecido pelo pseudônimo de Simãozinho Sonhador. Maranhense de nascimento, o poeta e compositor foi malabarista, trapezista, peão de touro e camelô. Depois a poesia invadiu sua vida e inspirou seus versos que depois viraram canções. Ele faleceu aos 87 em 5 de janeiro de 2019, em Macapá, deixando um legado imensurável para a literatura nortista.
O sonhador morou no maranhão até os 16 anos, quando fascinado pelo circo fugiu de casa para viajar e virar trapezista do Circo Montenegro. A vida de andarilho com o circo o inspirou a escrever poesias, logo já tinha o suficiente para fazer um livro.
“Simãozinho Sonhador
Alerta Brasil, alerta!
Com este historiador
Com seu livro de sonho
Esta obra de valor
O título do livro
É Simãozinho sonhador”.
O talento do poeta é revelado no primeiro poema do livro. Devido a obra, o poeta foi apelidado de Simãozinho Sonhador, o apelido pegou e virou pseudônimo. A paixão pelo circo foi menor que a saudade de casa. Assim, ele voltou ao lar, mas como não tinha completado os estudos, foi trabalhar como camelô. Passaram-se anos e a vida foi voltando ao normal, decidiu recomeçar uma nova história em Belém. Na capital paraense apendeu a fugir do rapa e a respeitar e admirar a imensidão do Rio-Mar.
A nova fase lhe trouxe um amor com o nome de Socorro. Ele conheceu a mulher dentro da igreja católica que frequentava. Namoraram e noivaram. Constituiu uma família com 11 filhos e lançou as obras: a lembrança de Serra Pelada, O Caminho da Salvação, A Beleza da Criança e o Mundo invisível. Ainda insatisfeito com o salário, se mudou com a família para Fortaleza onde trabalhou como peão de touro e lançou mais sete obras.
Lá as crianças cresceram e a saudade do Norte também. Então ele decidiu que queria se mudar, mas, dessa vez só com a esposa, para Macapá. É foi aqui na linha do Equador que consolidou seu nome com os livros: Histórias do Fim do Mundo e o ABC da Mulher. Este último livro é dedicado à sua esposa que faleceu.
Livro escrito em homenagem a esposa do poeta/ Foto: arquivo
Com tempo sobrando e ideias fervendo, ele se dedicou a outra paixão, a de cantar. Lançou o CD Simãozinho Sonhador inspirado em seus 13 netos.
“Crianças
A criança é inocente, ela não tem vaidade.
Ela tem um tesouro santo no reino da eternidade
Toda a felicidade neste mundo de pecado e por causa da criança
Quem não se fizer como criança não será justificado.
Assim disse nosso Jesus amado
E a escritura não mente.
Eu fico penalizado pelas crianças carentes
O sorriso de uma criança satisfaz a minha mente”.
O talento do poeta passou a ser reconhecido ainda mais em 2007, com o documentário "Simãozinho Sonhador do cineasta" Manoel do Vale. O projeto vencedor no Amapá do concurso Doctv IV, autoria/direção de Manoel do Vale, produzido por Castanha Filmes.
“O Simãozinho era aquele personagem de cordel poético e exótico. Tinha sempre um verso na ponta da língua, sorriso no rosto e uma palavra amiga. Ele nos deixou livros belíssimos sobre a inocência das crianças, a beleza da mulher e a paixão pela família”, frisou o cineasta Manoel do Vale.
Em 2012, o sonhador foi homenageado pelo Governo do Estado na Feira do Livro do Amapá (Flap) com o edital de literatura com seu nome. Na época ele declarou: “Eu fiquei muito surpreso. Não imaginava que teria todo esse reconhecimento. Fui a primeira e segunda edição da Flap, todos me receberam com muito carinho e amor. Me trataram como um rei, eu nunca imaginei que poderia chegar a ser reconhecido dessa maneira por meio das minhas poesias”.
Simãozinho famoso poeta/ Foto: Castanha Filmes/Divulgação
A riquíssima obra de Simãozinho é reconhecida não apenas como versos, poesias e músicas, mas como uma referência de escrita para o também escritor e membro da cadeira número 31 da Academia Amapaense de Letras, Paulo Tarso Silva Barros.
"O Simãozinho tinha uma inocência no olhar e refletia isso em sua poesia humilde, apaixonante e com rimas valiosas. Ele deixou crônicas fascinantes, versos incríveis e canções com riquíssimas melodias. Além de poeta cronista, era também um cantor apaixonado pela vida, pela natureza, um cristão devoto e um avô divertido. Seu legado é com certeza uma referência para as próximas gerações e deve ser estudado por todos aqueles que buscam fazer rimas impecáveis”, pontuou o escritor.
Algumas das 22 obras escritas do artista podem ser encontradas pelas redes sociais com o Wilson Viana de Sousa, filho do poeta. Além disso, é possível encontrar alguns poemas na internet e documentários e entrevistas na tv e sites amapaenses e maranhenses.
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