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Mulheres na reciclagem: catadoras do Amapá buscam sustento familiar na coleta seletiva

Atualizado: 19 de set.

Projeto reúne moradoras do bairro Coração, zona oeste de Macapá, que ajudam o meio ambiente e levam renda para o lar.


Por Keum Hee e Mônica Costa

Local onde atualmente funciona o Projeto Mulheres na Reciclagem. Foto: Keum Hee e Mônica Costa

Em 2022, Macapá produziu mais de 70 mil toneladas de resíduos sólidos, de acordo com dados da Secretaria Municipal de Zeladoria Urbana. A coleta do lixo na capital segue um cronograma semanal, que varia de dois a três dias em cada bairro. Sem o cuidado da população e do poder público, todo material descartado tem o mesmo destino, ou seja, 95% é encaminhado ao aterro sanitário.


Foi para mudar essa realidade que nasceu o projeto Mulheres na Reciclagem. O grupo é formado por mulheres moradoras do bairro Coração, zona oeste de Macapá, que juntaram sua força de trabalho para ajudar o meio ambiente e levar renda para o lar por meio da economia sustentável.


“A maioria das mulheres são donas de casa que estão em uma situação financeira difícil, então decidiram fazer a coleta para garantir o sustento familiar. Para ajudar, surgiu a ideia de criarmos o projeto e proporcionarmos condições adequadas para elas trabalharem”, explica o coordenador do projeto, Rony Gonçalves.


Mulheres integrantes do projeto coletando resíduos durante a noite. Foto: Arquivo pessoal.
Assim que alguém aciona, a equipe se desloca até o local. Foto: Arquivo pessoal

A política dos 3 R’s (Reduzir, Reutilizar e Reciclar) sempre esteve presente na vida do casal Rony e Franci Gonçalves. Os dois possuem formação em Logística, mas ao observarem mulheres coletando individualmente, durante o período noturno decidiram colaborar de alguma forma.


Há seis meses, o projeto coordenado pelo casal auxilia com apoio e infraestrutura para 15 mulheres de baixa renda. A rotina inicia todos os dias, a partir das cinco horas da tarde, tendo como ponto de encontro o centro comercial de Macapá. Uniformizadas em tons lilás (cor de identificação do projeto), elas percorrem o local recolhendo plásticos, papel, ferro e outros materiais que possam ser reciclados. Mesmo com o esforço, o grupo ainda enfrenta dificuldades, como a relutância por parte de alguns empresários e comerciantes em contribuir com a causa.


“Não conseguimos que os lojistas doem o material para gente. Então, nós coletamos, em média, 400 quilos de papelão diários em quatro ou cinco quarteirões, o que deixa de ser recolhido é destinado ao aterro sanitário”, desabafa Franci.

“Largamos tudo [emprego] para investir nisso aqui”, afirma Rony. Foto: Keum Hee

A maioria das cidades e capitais do Brasil não têm aprovada uma política específica pensada na reciclagem e coleta seletiva, como determina a Política Nacional de Resíduos Sólidos. No Amapá não é diferente. Somente Macapá, Santana e Mazagão possuem aterro sanitário, conforme recomenda a legislação, no entanto, não há incentivo pelo poder público.


Segundo Lilian Medeiros, especialista em resíduos orgânicos e integrante do movimento ‘Lixo Zero’, Macapá ainda precisa estabelecer coleta seletiva e estimular práticas sustentáveis, quanto ao destino do lixo urbano, por meio da reciclagem. “A reciclagem reduz gastos de energia com a produção de novos produtos. Dessa forma, os materiais podem ser devolvidos para a cadeia produtiva, ajudando a preservar o meio ambiente”, afirma a especialista.


Outro desafio para Rony, no projeto Mulheres na Reciclagem, é a separação do material. As pessoas não têm o hábito de separar o material e isso leva tempo das catadoras. “Hoje o material coletado no centro ainda é todo misturado, encontramos desde animais mortos até papel higiênico utilizado. Nós fazemos toda a separação no local e isso demanda tempo”, relata o coordenador.


Ponto de triagem e armazenamento das coletas, antes dos materiais serem entregues para a empresa parceira. Vídeo: Mônica Costa


Atualmente, Rony e Franci vivem da coleta de materiais. Além da ação no centro comercial, o projeto “Mulheres na reciclagem” atua em dois Ecopontos, que estão localizados nos bairros Pedrinhas e Buritizal. O programa tem parceria com a empresa Reciclagem Macapá, que também ajuda catadores autônomos na compra de seus materiais. A expectativa do casal é levar o projeto para demais localidades da cidade.


“A ação iniciou com a coleta de material reciclado no centro comercial e estamos verificando quais correções precisam ser feitas, pois a ideia é expandir o projeto para toda Macapá e, posteriormente, ao município de Santana”.


De que forma posso ajudar o “Mulheres na Reciclagem”?

Se quiser descartar algum resíduo, não é cobrada taxa para fazer a retirada do material, entre em contato pelo Instagram (@mulheresnareciclagem). O ideal é que a retirada seja feita quando existem materiais em grande quantidade, caso contrário, é só deixar em um dos Ecopontos, no bairro Pedrinhas e Buritizal, que funcionam das 8h às 18h.




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