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MAPIGE: A ARTE COMO REFLEXO DE UMA ALMA CABOCLA E COMPLEXA

Foto do escritor: AGComAGCom

A história da artista que transita entre a pintura, o artesanato e o teatro, sempre lutando pela sua cultura.


Por Mikhael Santos e Pablo Martel


Magipe Gemaque, artesã, artista e vice presidente do Conselho Estadual de Política Cultura do Amapá. Foto: Nayana magalhães/GEA.

Nascida em 1º de junho de 1982, na cidade de Chaves–PA, Maria Pinho Gemaque, mais conhecida como Mapige, é uma artista cuja trajetória é marcada por uma fusão única entre o teatro, a arte naturalista e uma sensibilidade profunda para as expressões culturais de sua terra. O nome artístico "Mapige", criado em 2006, é um acrônimo de seu nome de batismo, simbolizando não apenas uma assinatura criativa, mas também um distanciamento deliberado da figura pública que começou a construir na década de 90.


Ainda criança, aos nove anos Mapige encontrou na arte um meio de expressão pessoal. Ela costumava comprar mentas em embalagens coloridas, atraída pelos desenhos na parte interna do papel luminoso. Esses primeiros contatos com a arte visual, que se manifestavam em figuras de cabeça esférica, olhos circulares e expressivos e corpos desproporcionais, demonstraram uma inclinação precoce para o que mais tarde se tornaria uma forma distinta de ver o mundo. 


“Era só pegar uma daquelas embalagens de bombons e me perdia nos desenhos brilhantes que apareciam quando desembrulhava. Eu passava horas observando cada detalhe, tentando entender o que estava por trás daquelas imagens. Mal sabia eu que, naquela época, estava começando a descobrir o meu próprio jeito de ver e expressar o mundo. Aquelas mentas não eram apenas doces; eram a minha primeira porta para a arte", conta a artista.


Seus diários artesanais, que começaram a ser criados aos 10 anos, eram mais do que simples registros de suas vivências: eram repositórios de ilustrações e croquis de roupas que imaginava criar. A insatisfação com a moda padronizada das ruas de Macapá, especialmente o uso do jeans como uniforme escolar em um clima quente, impulsionou sua criatividade e alimentou seu desejo de inovar.


Durante o ensino fundamental, as habilidades artísticas de Mapige também já chamavam a atenção. Nas aulas de Educação Artística, ela se destacava em atividades de desenho, recorte, colagem e pintura, a ponto de seus professores, como a educadora Eliana Rabelo, solicitarem suas reproduções ampliadas de esqueletos humanos, insetos e outros temas biológicos.


Em 1997, aos 15 anos, Mapige deu um novo passo em sua jornada artística ao se inscrever em seu primeiro curso de pintura em tecido, realizado no centro de vivência do Bairro do Muca, uma área periférica de Macapá. Embora a experiência tenha sido breve, deixou marcas profundas na jovem artista, que começou a explorar as possibilidades da arte como meio de expressão e transformação.


Três anos depois, em 2000, ela buscou expandir suas habilidades ao se inscrever em um curso básico de teatro, ministrado pelo diretor e ator Geovane Coelho. Este curso foi um marco em sua formação artística, não apenas por introduzi-la às técnicas de interpretação, mas também por moldar sua disciplina e compromisso com a arte. Geovane Coelho, uma figura austera e de personalidade forte, foi um mentor rigoroso, que incutiu em Mapige valores como responsabilidade e assiduidade, fundamentais para sua evolução no campo artístico.


"Quando decidi me inscrever no curso de teatro sabia que estava dando um passo importante na minha jornada artística. O que eu não imaginava era o impacto profundo que isso teria na minha formação. Ele não era apenas um mestre das técnicas de interpretação, era uma força implacável que moldava o caráter e nossa dedicação cultural”, ressaltou.


A partir de 2006, Mapige passou a construir uma identidade artística multifacetada e resistente às classificações simples. Sua arte, que incorpora elementos da política, da cultura cabocla e de uma complexidade híbrida, é efêmera e confrontante, refletindo seu entendimento do mundo como algo que deve ser constantemente questionado e reinterpretado.


Obra em pintura e uso de materiais naturais. Foto: arquivo pessoal.

Após anos de dedicação à sua carreira artística e à promoção da cultura em sua comunidade, Mapige alcançou um marco significativo ao tornar-se vice-presidente do Conselho de Cultura. Esta posição é um reconhecimento de seu impacto e influência no cenário cultural, refletindo seu compromisso com a arte e a valorização das expressões culturais locais. Como vice-presidente, ela continua a exercer um papel ativo na defesa e promoção das artes, sempre com a mesma paixão e persistência que marcaram sua trajetória.


“É um sentimento de gratidão, pois queremos que o artesanato ocupe o seu lugar dentro do território amapaense e cada artesão se reconheça como um fazedor de cultura. A nossa busca é constante, perseguimos a democratização do segmento porque está presente em todo o estado e nas esferas sociais”, destacou Maria.


Performance em evento. Foto: arquivo pessoal.

A trajetória de Mapige é, portanto, a história de uma mulher que aprendeu a amar e viver por meio da produção artística, fazendo da arte não apenas um ofício, mas um reflexo profundo de sua alma e de suas raízes.


Perfil produzido para a disciplina de Laboratório de Produção Jornalística ministrada pela professora Laiza Mangas. 


 
 

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