O monumento deve passar por um grande processo de reestruturação, incluindo atividades de gestão, restauração e conservação.
Por Cintia Leão
A Fortaleza de São José de Macapá está em processo de reconhecimento como Patrimônio Mundial pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), devido ao seu grande valor histórico, cultural e arquitetônico. Por meio de um convênio entre o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e o Governo do Estado, foram destinados mais de 30 milhões de reais para a revitalização da fortaleza e cumprimento de alguns pré-requisitos necessários para seu tombamento. O projeto encontra-se em fase de aprovação de demandas, e a expectativa é que logo o plano de restauração seja posto em prática.
No último dia 19 de março, a Fortaleza de São José completou 241 anos. A obra foi erguida para proteger a Amazônia de possíveis ataques estrangeiros e é considerada a maior edificação militar da América Latina. Atualmente, encontra-se em estado de desgaste e desvalorização. Nesse sentido, o projeto de revitalização prevê a recuperação estrutural do monumento, revitalização do paisagismo, adaptação de áreas para restaurante e lanchonete, áreas de oficinas, adequação da acessibilidade, melhorias nos sistemas de iluminação e segurança. Estão previstas também ações de conservação do acervo do museu instalado no local.
De acordo com a gerente do Museu da Fortaleza, Flávia Souza , o projeto está na fase mais burocrática do processo. “Os projetos técnicos devem ser aprovados pelo IPHAN, BNDES e pelos órgãos competentes. A fortaleza tem uma sinalização padrão da UNESCO. Então, ela está na fase de projeto técnico, que é uma parte demorada mesmo . Sendo assim, o dinheiro está bloqueado e só sai depois que esses projetos forem aprovados. Temos várias premissas, diretrizes e técnicas para seguir, que não podem ser de qualquer jeito. Não é qualquer empresa, não é qualquer financiamento. Tudo tem que ser analisado. Todo processo de negociação vem ocorrendo desde 2017”, explica.
Ainda segundo a gerente, no ano passado foi entregue o projeto, já se tem a empresa definida e orçamento. A previsão de entrega do patrimônio todo restaurado e requalificado é para 2027. O projeto de revitalização busca trazer benefícios como o fortalecimento da cultura e do turismo, ampliar a visitação nos espaços e atrair turistas do mundo inteiro. Flávia Souza frisa que a fortificação tem um potencial turístico muito maior do que alcança, que deve investir não somente na infraestrutura, mas também na renovação artística do espaço.
Mesmo em estado de degradação, estima-se que mais de 69 mil pessoas por ano visitam a Fortaleza de São José. Com o título de Patrimônio da Humanidade, espera-se aumentar esse número ainda mais.
Segundo o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), o reconhecimento do bem como Patrimônio Mundial, pela Unesco, depende de um tripé de ações vinculadas à preservação, proteção e gestão. Preservar sua estrutura secular é fundamental para o reconhecimento, é necessário que o ambiente mantenha suas referências históricas, tanto dos usos, quanto das tecnologias empregadas, materiais e histórico social.
Os primeiros projetos estão em análise no Ministério da Cultura e devem ser liberados ainda neste ano. Serão realizadas inicialmente ações emergenciais de conservação da edificação. Atualmente, a fortaleza não possui ações de restauração e nem revitalização em andamento. Seguem sendo realizados os serviços de manutenção e conservação da estrutura, conforme a necessidades , como serviços básicos de roçagem das áreas verdes, caiação das edificações, limpeza das muralhas.
De acordo com o Iphan, a expectativa de funcionamento é imediata. A reforma não deve interromper a visitação do bem, apenas restringir alguns locais. “A princípio, a fortificação vem sendo tratada como elemento base impulsionador do turismo urbano e cultural da cidade de Macapá. Com a requalificação do forte, espera-se observar maior impulso no turismo local e na melhoria dos índices sociais da cidade”, disse o Iphan por meio da assessoria.
O historiador Augusto Oliveira acredita que revitalizá-la com certeza é uma necessidade urgente e coloca- lá como patrimônio da humanidade será uma representação da rica cultura amazônica, uma forma de reafirmar que essa região por vezes desvalorizada é dotada de uma identidade histórica única.
Para o historiador é importante distinguir a importância histórica e o monumento em si. “Uma coisa é fortaleza enquanto um monumento no sentido de uma edificação e a outra é esse monumento numa condição de importância histórica, um monumento histórico. Foi construída com o propósito de evitar ataques estrangeiros, enquanto todo o processo da construção envolveu trabalho escravo, tentativa de trabalho indígena. Serviu como local de prisão política durante a Ditadura militar, então vem toda uma carga negativa, mas quando você revitaliza, quando você coloca como patrimônio material, da cultura, do Amapá, da cultura brasileira, mundial, aí você começa a redimensionar e você reutiliza, revitaliza e dá novo sentido pra aquele espaço”, destaca o historiador.
De acordo com Augusto Oliveira a fortaleza é um espaço de visitação, um lugar de contemplação do rio, um espaço de contemplação da arquitetura, que ao passar por esse processo de reestruturação e tombamento como patrimônio da humanidade transforma isso numa visão afirmativa e positiva, não esquecendo seu contexto histórico. “Nós precisaríamos sempre lembrar o sentido histórico do que e o porquê o monumento foi construído e naquilo que nós conseguimos transformar hoje. Eu acho ótimo isso, mas é preciso cautela, para que ninguém perca. Hoje é um patrimônio bem querido pela população amapaense, é um patrimônio reconhecido nacionalmente” finaliza.
Vídeo mostra a grandiosidade da Fortaleza de São José de Macapá. Vídeo: Bruno Tavares.
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