As doenças mais comuns relacionadas à falta de saneamento são: amebíase, cólera e leptospirose.
Por Cássia Palheta
Imagens mostram a realidade atual das encanações nas áreas de ressaca. Fotos: Cássia Palheta.
Comumente conhecidas como “áreas de ressaca” ou “pontes”, os espaços urbanos encaixados em terrenos que se comportam como reservatórios naturais de água e que sofrem efeitos da ação das marés, apresentam, entre outros problemas, carências na estrutura das tubulações de abastecimento de água, o que resulta em riscos à saúde dos moradores dessas regiões. Em Macapá, segundo o Instituto Trata Brasil, apenas 37,56% da população têm acesso à água tratada.
Segundo apontam moradores, as tubulações, além de antigas, carecem de manutenção e se encontram em condições precárias. Os principais problemas causados pela situação das tubulações atingem o bem-estar e saúde dos moradores, que por muitas vezes não podem arcar com tratamentos médicos.
Para Tania Maria da Silva, de 42 anos, pedagoga e moradora da Passagem das Orquídeas, área alagada no bairro Pacoval, é como se ela morasse em uma área inexistente. “Moro há mais de 10 anos aqui e nunca vi nenhuma manutenção. Sofri cálculo renal em decorrência da água que chegava em minha casa, hoje em dia eu não posso tomar a água que cai na torneira de casa, só bebo água filtrada e graças a Deus eu tive condições de comprar, mas e quem não tem? Tem que beber essa água que muitas vezes chega barrenta e com cheiro de lago. E se reclamar, falam que não temos direito, porque não pagamos”, afirma a moradora.
Trechos que não apresentam total estrutura ou até mesmo rachaduras ao longo de sua encanação, acabam permitindo o contato entre a água tratada e a água contaminada das regiões alagadas. Nessas regiões é comum encontrar lixos, fezes humanas e de animais, carcaça animal e outros detritos descartados pela população nessas áreas.
Esses dejetos podem causar, principalmente, doenças relacionadas à bactérias. Entre os problemas de saúde mais comuns a atingirem a população das áreas de ressaca são: diarréia por Escherichia coli, amebíase, cólera, leptospirose, disenteria bacteriana, Hepatite A, febre tifóide, entre outras.
O biólogo e professor de Ciências Ambientais da Universidade Federal do Amapá, Arialdo Martins da Silveira Júnior, que pesquisa a avaliação da qualidade físico-química e microbiológica da água de abastecimento público, afirma que muitas tubulações são clandestinas, feitas pelos próprios moradores, sem planejamento da concessionária e sem manutenção alguma, sobretudo com infiltrações.
“A água da ressaca, que em muitos casos recebe, também, a descarga de efluentes domésticos e sanitários, acaba contaminada e infiltrando nas tubulações que abastecem as residências. Essa água contaminada, principalmente, por microrganismos patogênicos, como a bactéria ‘Escherichia coli’, torna-se uma potencial veiculador de doenças, como a síndrome diarréica aguda, infecções intestinais, febre tifóide, até mesmo a cólera”, alerta o professor.
O pesquisador deixa algumas dicas sobre o manuseio da água antes do consumo: “O ideal é o consumo de água que saibamos a procedência e a sua qualidade, como as águas de fonte mineral. No entanto, como em muitos casos isso torna-se oneroso, algumas ações podem ser tomadas, como ferver a água para ingestão, uso de filtros com carvão ativado e o uso de hipoclorito”.
Procurando melhorar esta situação, Concessionária de Saneamento do Amapá (CSA), que assumiu os serviços de tratamento de água e esgoto em 14 municípios amapaenses há pouco mais de um ano, realiza o projeto Pontes Para o Futuro, que visa melhorar as tubulações de água das áreas de ressaca.
Segundo Bruno Rodrigues, Líder de Garantias da CSA, com esse projeto, a concessionária pretende fazer 700 ligações mensais, trazendo mais qualidade de vida e água para as pontes de Macapá. “As equipes substituem as encanações, ampliam a rede disponível e regularizam as ligações com instalação de hidrômetro. As novas tubulações ficam de forma suspensa para evitar contaminação e contato com as áreas alagadas. Começamos os serviços pelas pontes dos Congós, zona sul, mas todas as zonas de Macapá receberão esses serviços”, garante Bruno.
*Notícia elaborada na disciplina de Redação e Reportagem II, ministrada pelo professor Alan Milhomem.
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