O ato de 29 de maio fica marcado com estudantes e professores lutando por seus direitos.
A União Nacional dos Estudantes (UNE) é a representação de todos os estudantes do Brasil. A organização entende que é necessária a realização de atos pacíficos nas ruas para contestar os cortes da educação pública que o atual governo vem fazendo. Em 2019, a UNE criou o ‘Tsunami da Educação’, que mobilizou diversas manifestações para combater os cortes da educação, tais como o 15M, 30M, 14J, entre outros. O resultado das reivindicações foi positivo e contribuiu para o cancelamento da redução orçamentária.
Entretanto, com o ensino remoto e híbrido ocasionados pela Covid 19 em todo o país, o Presidente do Brasil Jair Messias Bolsonaro e seu Ministro da Educação Milton Ribeiro, novamente tentam cortar as verbas orçamentárias do ensino público. Atualmente, a verba destinada às universidades federais está 18,16% menor do que em 2020, resultando em um corte no orçamento de no mínimo R$ 1 bilhão de reais, afirmam dados divulgados pela CNN Brasil.
Para lutar contra o sucateamento da educação, ocorreu ontem o Ato 29M em todo o Brasil e, apesar da pandemia, a ação atingiu grandes proporções. O evento teve a participação de estudantes, educadores e simpatizantes, em prol da mesma causa: salvar a educação brasileira.
Com a mobilização do Tsunami da Educação, as frentes que organizam os movimentos sociais e políticos do Brasil decidiram unificar e ampliar as pautas do ato, criticando assim, a postura do Governo Bolsonaro diante das mortes ocasionadas pela pandemia e do descaso com a vacina. Além disso, no dia do ato, o Brasil chegou a 2.012 mortes pela Covid, ultrapassando a marca de 460 mil óbitos totais, segundo dados do Ministério da Saúde.
NO AMAPÁ
O ato aconteceu na capital Macapá, com planejamento colaborativo pelas organizações ‘Frente Brasil Popular’, ‘Povo Sem Medo’, entre outras que se uniram ao manifesto. As comissões formadas definiram os GTs - Grupos de Trabalho, para auxiliar o 29M nas ruas. Os GTs foram de comunicação, segurança, brigada de saúde, mobilização, etc.
A concentração ocorreu às 16h na Praça da Bandeira, percorreu o centro da cidade e teve fim na Fortaleza de São José de Macapá, por volta das 18h. Todas as medidas de prevenção ao CoronaVírus foram respeitadas. Apesar dos cuidados individuais, os GTs distribuíram máscaras PFF2 (a mais recomendada por especialistas) aos que usavam de pano, distribuíram álcool 70° através de borrifadores e mantiveram a todo momento a organização das filas para garantir o distanciamento social de 1 braço a frente e ao lado uns dos outros.
Além do protesto ao Presidente Bolsonaro, foi colocado em pauta o sucateamento da Universidade Federal do Amapá (UNIFAP). Por falta de verba para a manutenção, quase fechou um de seus 4 campus, o Binacional localizado no município de Oiapoque, em fevereiro deste ano, antes ainda da redução no orçamento.
Janaína Corrêa é estudante de Ciências Sociais pela UNIFAP e presidente da União da Juventude Socialista - Amapá (UJS - AP). Ela conta que os cortes na educação estão ocorrendo nas Universidades e Institutos Federais em todos os estados do Brasil e, exemplifica o caso da UNIFAP: “Aqui que será um corte ‘pequeno’, a gente vai ter mais de 600 mil reais de corte. Só a segurança daquele passeio do Bolsonaro de moto, custou 450 mil, ou seja, existe dinheiro para ser gasto, mas não é direcionado a educação”.
Ela relata ser revoltante as universidades correrem o risco de fechar, pois muitas pessoas vão perder a oportunidade de ter uma educação superior de qualidade e, principalmente, pública. Janaína conta que, assim como em 2019, provavelmente haverá necessidade de outros atos para combater os cortes, em razão do governo demorar a ceder. Portanto, o Tsunami da Educação planeja montar um cronograma de lutas.
O professor de história Josean Ricardo, expõe sua indignação quanto ao recorde de desemprego e inflação que o Brasil vem vivendo. Ele relata que por irresponsabilidade do governo, a pandemia está devastando o povo brasileiro, que vem morrendo não só pela doença e descaso com a saúde, mas também pela fome. “Embora pareça contraditório a gente estar promovendo algum tipo de aglomeração, a gente está aqui só porque é estritamente necessário. É necessário que as pessoas vejam que há uma resistência”, conclui.
Dandara Souza, atual Presidente da União Nacional LGBT do Amapá (UNALGBT-AP) afirma que ficar em casa ainda é um privilégio e a maioria da população não o possui, por estar em situação vulnerável. Ela ressalta que a atual gestão federal vai contra as diversidades, então julga ser importante os movimentos sociais - como as comunidades periféricas, negras, LGBTs, entre outros - combaterem a redução dessa verba, uma vez que, parte deles forma a comunidade acadêmica.
“Contra essas mortes, buscamos nesse luto um pouco de luta, pra ir contra esse governo” relata Tani Leal, professora de Inglês e estudante de Letras Português/Inglês na UNIFAP. Ela expressa tristeza ao falar que ninguém queria estar na rua, sendo desesperador as pessoas terem que se colocar em risco todos os dias no trabalho e no transporte público lotado, mesmo com o negacionismo do aumento das mortes. Assim como Josean, Tani vê a luta como mais um risco necessário a se correr, com proteção e distanciamento, para mostrar que o povo tem voz.
Todas as fotos foram tiradas no 29M, em Macapá.
Colaboração: Ingra Tadaiesky
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